Nesta semana, começou a circular com passageiros o primeiro trem grafitado exclusivamente por mulheres no país. A primeira viagem do trem 106 da Trensurb após a pintura aconteceu na segunda-feira (25), por volta das 16h, levando na cabine de operação uma das artistas responsáveis pela grafitagem, Jamaikah Santarém. “Estou muito emocionada, esse era o momento que eu estava esperando, do trem andando, das pessoas entrando no trem, dessa interação”, declara. Jamaikah observa que, por mais pressa que os passageiros tenham para chegar aos seus destinos, “eles acabam dando uma atençãozinha” para a pintura do trem. “É tudo muito rápido, mas estou muito emocionada”, diz a artista. Ela destaca que a oportunidade de grafitar o trem representa “a realização de um sonho, porque o trem faz parte do imaginário do grafite”.

Entre os dias 18 e 22 de março, os quatro carros do trem 106 do metrô gaúcho foram pintados por Jamaikah e pelas artistas Bina Brum, Bruna Rison e Jay Moraes, numa iniciativa da sexta edição do projeto Identidade de Rua, que, desde 2005, já transformou outros três trens da Trensurb em verdadeiras galerias móveis de arte urbana. A grafitagem integrou também a programação para o Mês da Mulher desenvolvida pela empresa metroviária, que promove a campanha Mulheres Condutoras: Guiando o caminho, elevando o destino . Deu início, ainda, às comemorações dos 25 anos do Instituto Trocando Ideia, responsável pelo projeto.

Na tarde de sexta-feira, na sede da Trensurb, foi realizado um ato de entrega da grafitagem do trem 106. Na ocasião, a coordenadora de projeto do Instituto Trocando Ideia, Fabiana Menini, agradeceu à Direção e à equipe da empresa metroviária, pela parceria na iniciativa, e à Caixa Econômica Federal, que viabilizou o projeto por meio de patrocínio. “É com imensa gratidão que reconheço o talento e a dedicação das artistas convidadas e também a equipe de apoio ao projeto”, afirmou. Destacou ainda o fato da grafitagem ter sido realizada por quatro mulheres: “Nós, mulheres, que somos constantemente marginalizadas, menosprezadas e temos nossos corpos violados. Apesar de tudo isso, nós podemos e fizemos. O dia de hoje nos enche de orgulho e nos inspira a ir mais além”.

As artistas participantes agradeceram o convite do projeto Identidade de Rua e expressaram sua alegria e honra em poder fazer parte da ação. “Esse projeto é um marco histórico por ter reunido quatro mulheres pra fazer esse trem”, declarou Bruna Rison. “É muito difícil para nós sermos mulheres e sermos mulheres artistas, sempre. E eu espero que, com esse projeto, consigamos alcançar mais lugares e seguir em frente. Estamos sempre buscando liberdade de ir, vir, nos expressar. Foi isso que quisemos passar com essas artes”, completou.

Bina Brum lembrou que “o trem faz parte do movimento hip-hop e do início do grafite no Bronx”. Ela também falou um pouco sobre sua arte no veículo: “No meu trabalho, eu trago as mulheres da comunidade, sem distinção de raça e cor”. Além disso, sua pintura trouxe plantas, uma vez que trabalha com horticultura, e corujas, que representam ela, como mãe, com seus filhos.

Jamaikah Santarém, por sua vez, destacou o processo de grafitagem ao lado das demais artistas e equipe de apoio: “Para mim, o mais legal de tudo é poder estar compartilhando com essas mulheres maravilhosas, que eu sou fã. É sempre muito gratificante tu encontrares e te identificares com artistas, pois elas vão entender teus problemas, tuas aflições. Trabalhar com mulheres fazendo a frente de produção é sempre mais sensível, porque elas acabam entendendo um pouco mais o que passamos, sendo artista, periférica, mulher preta”.

Jay Moraes explicou que pintou uma raposa no trem, pois ela “protege os viajantes e nós, grafiteiras, trabalhamos viajando e as mulheres que usam o trem pra se locomover viajam e deixam suas crias sob a proteção da raposa”. É o caso dela própria, que é mãe solo e deixou seus dois filhos em Cascavel, onde mora, para participar da grafitagem. Jay concluiu sua manifestação afirmando: “Lutamos pra caramba pra conseguir chegar nos lugares e ter voz, então que esse trem leve a minha voz, leve a voz de vocês todas e de todas as mulheres de nossa cidade”.

Identidade de Rua

Além da grafitagem do trem, os usuários do metrô poderão conferir conteúdos exclusivos do projeto, com realidade aumentada, acessíveis por meio de QR codes dispostos no interior dos carros do trem 106. Até julho, a sexta edição do Identidade de Rua irá promover, ainda, seis oficinas gratuitas sobre grafite, uma em cada município atendido pela Trensurb. Destinadas a crianças e jovens, essas ações terão o objetivo de promover e valorizar a arte do grafite como uma forma legítima de expressão artística.

Mulheres condutoras

A grafitagem do trem também foi parte da campanha Mulheres Condutoras: Guiando o caminho, elevando o destino , da Trensurb, que celebra as mulheres que dão vida à empresa e ao metrô gaúcho, reconhecendo características de mulheres metroviárias que superam desafios, enfrentam preconceitos e são condutoras de um destino inspirador a todas as gerações. Criada internamente pela equipe de comunicação da estatal, a campanha está sendo divulgada ao longo do mês de março por meio dos perfis da Trensurb nas redes sociais e dos monitores em trens e estações. Ao destacar as trabalhadoras, para além de sua atuação na empresa, as peças celebram a paixão e dedicação de todas as mulheres que fazem a Trensurb, sejam metroviárias ou usuárias do metrô. Além disso, diversos eventos alusivos ao Mês da Mulher estão ocorrendo na Trensurb, tanto nas estações, abertos ao público, como na sede da empresa, dedicados aos metroviários.