Na tarde de quarta-feira (31), a Trensurb promoveu o seminário “Desafios de
Ser e Viver a Transexualidade no Brasil”, no auditório da empresa, com
organização do Núcleo de Apoio a Diversidade da estatal. Direcionado ao
público interno da empresa, o evento foi alusivo ao Dia Nacional da
Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro, e contou com a participação
dos convidados: Vincent Pereira Goulart, psicólogo clínico, mestre e
doutorando em Psicologia Social e Institucional (UFRGS), pesquisador e
ativista social pela coletividade de pessoas trans, negras e de terreiro;
Helena Soares Meireles, arte-educadora, mestranda no Programa de
Pós-Graduação em Educação da UFRGS, promotora de saúde da população negra e
membro dos coletivos Atinuké, Quilombelas e Coletivo de Formação Política
Dandaras; Alessandra Graeff, mulher trans/travesti e sobrevivente.
O seminário tratou dos desafios cotidianos enfrentados pelas pessoas
transexuais no país, buscando trazer esse tema para a reflexão dos
metroviários neste que é o Mês da Visibilidade Trans – iniciativa que busca
a sensibilização da sociedade por mais conhecimento e reconhecimento das
identidades de gênero, com o intuito de combater os estigmas e a violência
sofridos pela população transexual e travesti.
O primeiro convidado a manifestar-se foi Vincent Pereira Goulart. Ele falou
sobre o ativismo que pratica e trouxe informações sobre a realidade das
pessoas trans: “O Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas trans
do mundo, mas também é o país que mais consome pornografia trans. Então nós
temos a população trans sendo colocada como objeto de desejo, como bem
público e ao mesmo tempo, falando de violência, é como se esses corpos
fossem colocados como corpos que não merecem a vida”.
Em seguida, Helena Soares Meireles fez uso da palavra, lendo um texto
autoral que falava sobre a importância de se celebrar o Mês da Visibilidade
Trans, pois, além de trazer o tema à pauta, a iniciativa comemora as
vitórias dessas pessoas, mesmo em meio aos desafios trazidos pelo
preconceito e a violência: “Quero falar de nós ganhando e vencendo, falar de
nós vivos, falar de nossos corpos habitando e coexistindo, com liberdade e
segurança, indo além de apenas sobreviver. Quero falar de nós ganhando, das
nossas estratégias pedagógicas e acolhedoras no processo de transição
coletiva, não quero falar só de cicatrizes e de dores, mas de dias felizes e
de amores, que nos fazem esperançar por um futuro mais equânime”.
Por fim, Alessandra Graeff compartilhou sua história de vida e comentou a
respeito das violências que sofreu ao longo da vida. Sua caminhada começou
com dificuldades desde a escola, onde sofreu bullying e violência. Mais
tarde, também foi difícil conseguir um emprego: “Temos que salientar a
dificuldade de ser uma pessoa trans, mesmo assim me considero uma pessoa
fora da curva, pois atualmente me aceito, tenho carteira assinada e tenho
mais de 35 anos, a expectativa de vida de uma pessoa trans é no máximo 35
anos. Por isso, fiz questão de me colocar como sobrevivente. Todos nós somos
sobreviventes desse sistema. Mesmo depois de ter praticamente desistido da
minha vida, eu tive a coragem de ser quem sou e, hoje em dia, estou até
estudando em busca da minha graduação”.
Diretora de Administração e Finanças da Trensurb, Vanessa Rocha também fez o
uso da palavra na ocasião, agradecendo os convidados pela participação:
“Queria gradecer a Alessandra, a Helena e o Vincent pela enorme contribuição
que vocês estão nos trazendo hoje à tarde. É muito importante, para nós,
vocês trazerem essas vivências e falas, pois esse evento mostra que, mesmo
passando por momentos difíceis e nebulosos, agora nós podemos dar voz e
trabalhar em prol dessas políticas nas áreas de direitos humanos. Nosso
acolhimento, hoje, é mútuo e a Trensurb sempre será parceira de vocês nessa
caminhada”.